Um adeus

Suicídio.
Há quem considere loucura, um sacrilégio, um absurdo completo.
Na minha opinião quem pensa assim pensa pequeno.Quem pensa assim não quer desperdiçar a vida que tem aqui. Mas e quem não a aprecia. É louco só por não comungar da mesma opinião?
Acho que ainda precisamos abrir nossas mentes como sociedade.
A vida de muitos parece perfeita, mas só eles mesmos sabem com quais conflitos internos têm de lidar.
Na minha opinião, suicídio é uma medida desesperada de alguém que se cansou de pedir socorro.
Escrevo-lhes na íntegra uma carta suicida, bem, essa não é a verdadeira carta. A que era destinada aos meus pais teve que"sumir" esta seria entregue a minha médica, e foi. Pedindo para que ela cuidasse de tudo por mim.

16/10/10 - A morte nunca me pareceu tão sedutora...
Se estas folhas chegarem à você por mim, eu provavelmente vou estar chorando, se chegarem pelos meus pais provavelmente eles estarão chorando.
Minha intenção é deixar isto junto com a carta que farei pra eles, e minha intenção com isto é que você os ajude a superar.
Eu sei  que não deveria, até mesmo que não poderia, mas tem horas que eu acho que uma decisão precisa ser tomada, e eu a tomei, espero.
Tenho sim muito medo, em minha religião aprendi que as almas suicidas vão para o inferno, eu não queria isso, quero passar o resto da eternidade com Deus e meu entes queridos que se foram, mas não aguento esperar. Eu já pedi para ir naturalmente, mas meu pedido não foi atendido.
Eu quero, considere isso como meu último pedido, explique aos meus pais, os faça entender, eu sei que vai ser difícil no começo, mas faça com que eles me esqueçam, não completamente, mas que se lembrem de mim nos momentos bons, pesa para eles não se prenderem a quando os fiz sofrer. Ajude-os a realmente acreditar que eu os amo, e que nem morta vou deixar de amá-los.
Você me conhece melhor do que qualquer pessoa já conheceu, e provavelmente melhor do que qualquer um me conhecerá. Você talvez seja a unica que entenda porque eu tive que fazer isso, meus pais nunca vão entender, mas os ajude a aceitar, faça terapia com eles, você. É a unica que eu realmente acho que vá fazer direito, e que me conhece também, por isso será mais fácil eles acreditarem em você.
Faça-os entender, eu sei que não será fácil, mas com o tempo a dor vai passando e eu acho que eles vão ver tudo mais racionalmente. Nada disso é culpa deles, eles sempre foram os pais que qualquer pessoa pediu a Deus, mais ainda, eles sempre foram mais do que eu poderia querer, foram melhores do que nunca, pena eu não ter correspondido. Mas a culpa de tudo o que aconteceu comigo é inteiramente minha, eles fizeram o possível e além para eu ter uma vida feliz, promissora e confortável, mas eu não dei o valor merecido, eu queria mais, e a culpa disso é minha e de mais ninguém! Por favor, diga a eles que eu os amo muito, que foram as pessoas mais importantes da minha vida, e me fizeram muito bem, talvez se não fossem eles minha vida não teria durado tanto assim.
Explique para eles que foram os melhores, mas que a culpa é minha, que eu tinha que ter sido mais forte, mas não fui, mas que isso também é inteiramente minha culpa.
Roberta, peço-te mais duas coisas: certifique-se de avisar aos meus pais que caso eu fique em coma/estado vegetativo ou qualquer coisa do tipo eu quero que desliguem meus aparelhos (qual é, eu não tenho uma arma pra dar um tiro direto na garganta, não sei o que vai acontecer). Quero também que meus orgãos sejam doados, pelo menos os que puderem ser. Gosto de pensar que posso salvar pelo menos duas vidas de pessoas, que ficarão eternamente gratas por suas vidas, somente comigo doando a minha. Na verdade se eu conseguir salvar uma vida em troca da minha já basta.
Com o tempo muitos me esquecerão, afinal não fiz grandes feitos para ficar conhecida, meus pais vão sofrer, mas conto com você para ajudá-los a entender que a culpa é minha, não deles. Peço também que não me esqueça por completo, reluto em dizer, mas eu te amo também, mesmo você me irritando tanto foi importante para mim, e caso lhe ocorra o pensamento, a culpa também não foi sua, foi minha.
Só me resta dizer adeus.
E desculpa por lhe pedir tudo isso, sei que é grande a responsabilidade, mas não tinha mais ninguém a quem recorrer. Um beijo. Com carinho.

Para sempre;
Carol.

Eis a carta, e sim, quem a entregou fui eu e eu estava chorando.
Suicídio pode parecer loucura, mas não é. Tenho tudo para ser feliz, mas não sou, não inteiramente.
Porque eu não me matei? Vários medos. Um livro.

2 comentários: